domingo, 22 de fevereiro de 2009

Sonhos e folia

Embora eu fosse dormir, a folia continuaria... Não sei onde ela seria mais barulhenta, se dentro ou fora de mim. Observei se as portas e janelas estavam fechadas, não sei se queria proteger a casa ou trancafiar a mim. Deitei,embora a vida pulsasse,controlei e ordenei meus pensamentos. Imaginei diálogos, conheci pessoas, que talvez, naquele instante, representasse a mim. Tive sonhos escuros,sombras envolventes,lugares úmidos.Sentia ao sonhar,que meu ser se esgotaria ali.Caí em sono profundo,o breu é reconfortante,ele me esconde de mim.Acordei em plena madrugada,retirei seu braço de minha barriga.Caminhei lentamente pela casa,abri a porta dos fundos e cheguei a varanda.Chovia suavemente,levantei os braços em sinal de respeito ao equilíbrio,abaixei a nuca e senti as finas “faíscas”de água tocarem minha pele,meu cachorro latiu.Ele tinha algo nos olhos amendoados,senti que ele conseguia ver minha alma despida,ali.Levei as mãos na nuca,saudei os elementais e voltei para a cozinha.Analisei a estrutura de uma semente de pêssego,existem detalhes estranhos até mesmo nas coisas que gostamos.Sentei na frente do computador,meu confidente.Tentei escrever alguma coisa ali,mas tudo girava no antes,no que me levara a estar ali.Ouvi seus passos em direção a sala,abaixei a música e tentei me concentrar em algo superficial.Não quero,hoje em particular,que você saiba sobre mim.Algumas coisas suas me lembram música.Seus passos embriagados de sono,são engraçados.Me pergunto como pode sentir falta de mim,até nessas horas.Sentir falta de um corpo inanimado,refletindo e flutuando no silêncio dos deuses,um corpo que é templo das mais tempestuosas emoções,um corpo que não se deixa conhecer,um palco para uma mente compulsiva,apaixonada por letras,cores,cheiros,tecidos,estações e detalhes.Sorri.”Você é mesmo um grande homem”,pensei.Fingi que não vi você me olhar,com uma expressão mista de sono e ternura,afastei o corpo para o meio do sofá e deixei que você sentasse ali,comigo.Nesse momento,embora queira estar só,eu gosto da sua companhia,eu gosto do seu silêncio e gosto do seu olhar.Senti seus braços sobre minha barriga e seu queixo apoiado em minhas costas.Continuei a escrever,fazendo inexistente detalhes que preencheriam minhas folhas,mais tarde.
Você não vem dormir, moça? Sua voz ecoava em mim.
Daqui a pouco, meu anjo!Respondi. Embora a minha vontade fosse de te mostrar a língua e fazer você sorrir.
Deixei você adormecer ali, aqui, tão próximo que me senti em ti.E continuei escrevendo.
Não sei o que consegui dizer, nem sobre mim, nem sobre você, nem sobre meu teatro egocêntrico. Sei que gostei de ver você dormir,tentando me proteger de mim.Lembrei da sua proposta sobre o casamento,me senti feliz pelo que respondi.Embora,ainda tendo tempo e planos inacabados,gosto de te imaginar me esperando.Sem cavalo branco ou monstros em um castelo,mas ali.Olhando para mim e pintando a parede de vermelho.Talvez seja bonito terminar um capítulo assim,com sangue sintético abrigando um quadro abstrato e uma escrivaninha.Talvez a vida calma,também valha a pena.
Beijei sua mão,te acomodei no sofá, e voltei ao quarto, onde consegui suavemente adormecer.

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