sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Olhos plenos



A mudança é a janela para todas as coisas...Tornar-se imutável é morrer sem descobrir o que é estar vivo.Sem contemplar a delicadeza de uma flor,sem saber sentir o que é especial.Limitar-se a ser o mesmo é acostumar com a roupa velha,é confortável,cheira lembrança,mas aprisiona à um momento que passou.A criatividade é o confronto.Não é a capacidade de se reconstruir,mas a simplicidade em se montar,moldar,construir.A minha doença tem nome,gosto e peso.A minha doença é o fardo das molduras que construi.Telas em branco. Molduras ornamentadas e um vazio espacial que limita aquilo a ser simples tela,esperando o ser lá fora,tingir-se de si,ai,talvez,você se encontre.Não sei o que os anos trouxeram e evito com a minha alma,olhar meus antigos espelhos.Mas sei que é necessário saber o que me trouxe aqui.Contemplar meus moinhos e descobrir que eu sou aquilo que eu sinto,não o que transpareço.Que eu sou o que transborda e nem sempre vejo.Que eu sou mais que um traço externo e bem menos que as estrelas.Compreender,que sim,eu posso entende as coisas,pessoas,vontades,momentos,mas que não são essas nem seus opostos que me constroem.Não sou uma reflexão profunda,porque me desconheço.E desse não conhecer...Tenho olhos plenos.

Shakespeare não seria o mesmo se refletisse Goethe,mas seria plenamente Shakespeare se aceitasse ser,não o papel que desenhou,mas aquele que percebeu todos eles.Jardineiros,foram meninos que também desejaram ser astronautas e contemplar cometas,entretanto,suas raízes são profundas como a Terra,então,seu universo é toda a extensão de um jardim e eles,e só eles sabem que as flores são fascinantes como as estrelas,como os cometas.Tão fascinantes quanto ao próprio cheiro de flor,cheiro de terra.

Poderia me emoldurar,de Ana,Maria,José,Hannah,João.Poderia me emoldurar de pedra,flor,estrela,espinho,corte no pé ou cheiro de pão.Então decidi que não seria elas,porque,em essência,não o sou.Então cativo,e guardo toda lembrança em um pote.Sei que não o sou,mas brinco de sentir.

Todas essas coisas,talvez elas,não me deixem ser a branca tela,nem a moldura,durável e ruim,talvez,sejam elas pedaços de coisas que me importam.Pedaços de coisas que gosto,como tecidos,folhas,canções.Não tenho tempo,não sou uma lembrança,não sou um projeto,não sou um dia,e não me importo com o tempo ou a tempestade lá fora.

Acho que sou o que,em um momento,prevalecer em mim.Seja cor ou pétala,brisa ou lamento,poesia ou monólogo...

Eu me permito descobrir,e como bananas,jogar a casca antiga,fora.

E me visto,por agora,de nostalgia e flores.

Um comentário:

  1. Que lindo Havanna.... você é definitivamente um excelente escritora.
    Adoro-te...Beijinhos

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