terça-feira, 20 de outubro de 2009

À Lívia




Vendo o dia nascer feliz do lado errado

Não fale assim comigo



E se eu te desapontar,o que vai acontecer?
Você vai me chutar para fora da sua caixa de sapatos?
Eu não morreria por você,então,não viva por mim.
Me telefona quando você perceber que seu amor incondicional é uma condição para tentar me submeter a alguma neurose sua.
Escreva uma carta me avisando que você vai desaparecer se eu não for boazinha,se eu não deixar minhas unhas crescerem,ou não pintar meus lábios...
Escreva uma placa de mãe abandonada e use na sua coleira de boa filha,boa mulher,boa profissional.
Reze por seu sofrimento e me deixe quieta,porque não acredito em pecado...
E se o céu for tão bom assim,
Me telefone e apenas me diga esse amor imortal é apenas mais uma de suas mentiras.

E se eu estiver tão errado assim,apenas me veja partir
Porque o preço do seu amor,é o meu silêncio.
E agora que sei para onde ir,eu vou gritar sempre o mais alto que eu puder,até começar a acreditar em mim.

domingo, 18 de outubro de 2009

Risco





Há alguns mundos em mim
A maioria mudo,vulcão adormecido
Ando sensível,dormindo cedo,falando baixo.
Ando deslizando pelo caminho,chutando a pedra e machucando os dedos
Recitando falas erradas,tentando o contrário.
Ando encarando fantasmas pequenos,ensaiando silêncio,tentando não fazer nada.

E você desmancha a cena em um abraço.

Porque o medo é só o passo preguiçoso.

Colher de tempo



Dois passos para frente,três para trás,nem o giro de 180ºregula o tempo,nenhuma fórmula me encolhe mais.
E o que mudou até aqui?
Os fios vermelhos,as cores das unhas,a forma das palavras,as verdades que não disse e minhas cicatrizes.
O que mudou até aqui,não foi nada além do que já conhecia,antes do início.Antes de me aglomerar em células maiores.
O que mudou até aqui,não foi a forma de ver,mas as palavras cuspidas em meu rosto.
Ainda hoje,pouco me machuca,só as mesmas palavras.
O tempo imortaliza alguns rostos
Congela algumas almas
Arranha corações
E quando,em desespero,mergulhamos em seu turbilhão,voltamos ao início,ao útero do mundo.
Pouca coisa me prende aqui,exceto essa vontade,que por vezes é receio,de afundar cada vez mais nas linhas do tempo e tentar compreender o quanto eu poderia
ter ido em frente,se não fosse o receio de não voltar.
A gente nunca volta a ser o mesmo,nosso corpo encolhe a medida que navegamos e se torna pequeno,pequeno,pequeno,até que,como o início,nos enxuta para algo
novo.Acho que tenho o defeito de ficar muito acordado,acordado sem a medida desse ciclo de horas pequenas.
Mas acordado,mergulhado,coletando cada concha de mim,como um curioso.
Eu sou tão velha e a Terra se recicla tanto e cada vez,com uma nova roupagem.
Não,eu não quero a vida dos que nascem uma vez...
Mas dos que se arriscam a tentar,tentar,tentar,sentir

E tentar de novo!

Arranhões




Eu sei que estou desistindo muito fácil
Brigando com capítulos ainda inéditos
Procurando um refúgio
Eu só queria estar em paz


Se você me odiasse seria tudo mais fácil
Se você me odiasse eu tentaria ser bom
Se você me matasse,eu iria sorrir para você.

Você acha que é fácil te olhar e sorrir?
Acha que é fácil estar com você?
Eu gostaria que o mundo se partisse em pedacinhos...
Eu gostaria de não ter mais que olhar para você,Ella.
Seu amor é meu castigo
Seu amor é meu castigo
Seu amor é meu castigo

Se você me odiasse,seria tudo mais fácil
Se você me odiasse,eu tentaria ser bom
Eu tentaria ser bom
Se você me odiasse,eu estaria sorrindo.
Se você me matasse,eu estaria em paz

Porque eu não consigo sorrir sem sentir seu descaso amargo
Seu amor é meu castigo
Seu amor é meu castigo
Seu amor é meu castigo





Quanto de mim há no teu sorriso cansado?
No teu arrepio,o meu afago.
Quanto de mim está guardado
Na língua
Na lágrima
No tempo
No passo

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Ai ai




Meia volta no relógio e passos atrasados...
A mesma lingua,a mesma cinta liga,o mesmo compasso.
Me perfumar em confiança e desabrochar para mim.
Mas sou bicho gente,carne viva,pétala em flor e cravo,também.
Não sou briga de beleza,sou proteção exagerada,sem rancor.
Não me entenda mal,é que,as vezes eu também sou pequenina.
E não tenho giz de cera,então a língua engole a palavra.
Meia volta no relógio e silêncio
Me sinto bem mal me quer

E muito do bem te quer bem,bem!

O poeta não tem rosto,se molda,como se sente.



Fios de tempo,bordando os lapsos da memória...
Cartas,flores,abraços...
Estamos indo,meu Tartarugo.
Indo para n! anos...
Porque a eternidade é só um degrau.

Eu te amo com a mesma intensidade e delicadeza do início,só que,cresce mais em cada nó de tempo.

Sua,só e sempre

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Calma



Já não escrevo em silêncio
E o fundo do poço é tão bonito,quanto as pedras no lago,na primavera.
Eu sei do meu espaço e que não há pontes ordenadas de flores.
Há muros,muros tão silenciosos quanto um reino em festa.
E só me vejo fora,quando olho por dentro.Seria meu reflexo assim tão importante?
Seria eu,mais de mim,ao avesso?
Seria minhas cores que mais fortes que eu?
As pessoas deslizam pelas ruas,passam pela minha janela,discursam sobre sua importância e eu apenas passo a sorrir.
Eu percebo que o mesmo tempo que molda e aprisiona é o que nos simplifica e liberta.
Um pouco de células alheias,um pouco de mundo em comum e um pouco de visão alternativa.
Ah,não!Eu prefiro meu sonho em meio às flores.
Deixemos a ciência,nossos holofotes.
Deixamos aos filhos do ego,nossa atenção.
Porém nós mesmos,seremos transpirados em palavras.
Há tão pouco de mim em meu corpo,tão nada no que visto,digo e me alimento.
Percebo que minha alma dança sobre meus olhos em forma de vento,em forma de cor,em forma de vida.
Os anos arrastam.
Em breve,metade de mim,terá novos ossos e minha alma estará cansada.
Em breve,diluirei me em palavras,jogadas ao vento.
Em breve,já não serei nada.
E serei tudo,porque correrei com o vento e beijarei a face da sensibilidade.
Despertarei momentos.
Em breve nenhum arrepio passará despercebido,nenhum segundo abandonará o papel.
Em breve,sentarei em minha pilha de palavras e poderei sorrir tão desesperada,quanto uma criança com um doce aos lábios e estarei feliz.
Realmente,os segundos são belos.

E o desespero a forma nua de felicidade.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Rosas do tempo



O cheiro,o sorriso o afago.
Não se sabe muito sobre o tempo,se sabe que se arrasta,que seguimos o seu curso de olhos vendados.
Meus ossos são fortes,minha memória é vazia,presas em meu estômago estão as carnes passadas,a minha pele perfuma se gota a gota ao cheiro de rosas fúnebres.
Viver escorre entre os dedos.Aprender com o risco.
Imagens atravessam minhas retinas.
Não se pode chorar por coisas que não voltam,não se pode interferir,e atrasar o relógio,alguns momentos.
Viver é intenso e espero que nenhuma emoção seja vazia.E nem espero viver de risos,eu quero todas as estações.E não me preocupo em ser uma,e seja como for,não é o espelho quem me reconhece,nem a minha voz que desfaz meu silêncio.Não é o que faço que define o tamanho do meu castelo.
Mas sim,a minha vida pode ser medida pelo que escrevo,pelo que vejo,pelas flores e pelas canções que me permito cantar.
Sim,meu querido,meu tempo pode ser medido pelas coisas que amei e pelas que evitei.Pelas vezes que me machuquei e pelo que sonhei.Meu tempo pode ser medido e diluído,simplesmente naquilo,que entre todos os universos,decidi enfeitar com os finos grãos do meu tempo.
Por fim,posso dizer com certa segurança e eterno receio,que vivi não só o que aprendi e pude perceber e escolher,meu tempo fixou se ao que acolhi,como parte do ser alado que sou.

Estar acordada passa tão rápido.

Eu matei a palavra





E quando o tempo vai abrindo as cortinas do silêncio
E toda palavra é avesso,
Porque a voz é saudade.